segunda-feira, 5 de novembro de 2012


A Aurora das Novas Mídias e a Diluição do Quarto Poder

A cerca de uma década, uma nova ordem social estabeleceu a grande pergunta para a imprensa: “O jornalismo, tal como o conhecemos, está com dias contados?”

Para Sidnei Basile (2003), um dos jornalistas mais experimentados da cena nacional, “...não é o aspecto mais promissor”.

Num mundo onde o bem maior oferecido por esta instituição – a informação – transborda disponível através de inúmeros outros canais, como as novas mídias digitais, é inevitável refletir sobre o papel do jornalista nessa nova configuração.

Diante do surgimento de novos meios de distribuição de conteúdo informativo, é possível que a imprensa deixe de ser relevante? O que pode ser considerado jornalismo na Era da informação compartilhada?

Impossível ignorar que os blogs e demais mídias digitais como Twitter e Facebook esvaziaram o monopólio da distribuição de informação. Mais do que isso, têm como essência a informação bidirecional, interativa, instantânea, e compartilhada; palavra-chave desta segunda década do século XXI que, em alguns casos, aumenta o alcance de uma notícia em progressão geométrica. Isso é a rede.

Portanto, a informação aqui circulante não pode ser negligenciada uma vez que hoje também contribui para formação da opinião pública ou como quer Lippman, “aquela opinião feita pública”.

De modo que, se já coube ao jornalismo clássico – aquele representado pelos veículos da imprensa escrita e eletrônica – o papel de salvaguardar a sociedade contra arbitrariedades e abusos de poder, na medida que garantia o acesso à informação, hoje este papel parece estar sendo posto em xeque.

O jornalismo sofre uma crise de identidade. E se antes a imprensa reivindicava ser o centro do processo de formação da opinião pública, chegando a ser considerada  o quarto poder, hoje é obrigada a reconhecer-se como mais um dos planetas que orbitam em torno desse sol, ao lado do entretenimento e das novas mídias.

Uma mudança no equilíbrio de forças que Sidnei Basile classifica como uma “revolução copernicana” no jornalismo.

No entanto, ao mesmo tempo que é sedutor pensarmos em uma sociedade onde todos têm a possibilidade do seu discurso em praça pública onde sentam-se pelo menos seu 500 amigos de Facebook, a desinformação crônica também é um risco.

Isso porque, se antes a Teoria do Agendamento (1.970), considerava que o público leitor tendia a dar mais importância aqueles assuntos veiculados pela imprensa, hoje essa equação é forçada a incluir a variável: impacto e repercussão de um tema nas mídias digitais.

E mais do que isso: a possibilidade de agendamento pelas próprias mídias digitais!
O que, a princípio, não é bom nem ruim mas, sem dúvida, encerra um aspecto democrático. Um novo gatekeeping de mão dupla. No entanto, o passo crítico aqui está na dependência do que irá merecer a partir de agora a atenção deste novo público leitor pulverizado, uma vez que os indexadores de conhecimento estão diluídos. E parte dos internautas encontrá-se convertida em jornalistas-cidadãos.

É quando o quarto poder reconhece o surgimento do quinto poder.  Tese apresentada pela primeira vez por Carolina Terra em seu estudo sobre o usuário-mídia.

Segundo Terra “o establishment da mídia não pode evitar que os usuários-mídia ressignifiquem, satirizem ou endossem opiniões defendidas por grandes veículos”, reverberando ou não a opinião pretendida como pública.

Se pensarmos que hoje são apenas oito visões de mundo que nos são apresentadas –  considerando-se que este é o número de grandes empresas provedoras de notícias ( e todas as demais funcionam como satélites ), é mais do que necessário que exista um movimento no sentido de vigiar os vigilantes.

E nesse momento o conjunto da sociedade quer ser reconhecido como parte da voz que informa e vigia.

No entanto, também é possível considerar que o processo de esvaziamento do jornalismo começou muito antes da aurora das novas mídias. Ameaçado não pela pervasividade da notícia nas redes, mas pelo sensacionalismo. Inaugurada em 1920 por dois grandes publishers americanos – Hearst, que inspirou o clássico Cidadão Kane e Joseph Pulitzer – a imprensa marrom foi uma das grandes responsáveis pela distorção da profissão.

A Era da informação compartilhada não prescinde do jornalismo. Mais do que nunca vai precisar do ideário da profissão, que se apóia na liberdade de expressão.



Silvia Barros




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